Não há como se escrever sem que
seja com a alma. Esse cansaço que agora sinto é o resultado de anos de
escombros entulhados numa vida que vem sendo vivida no atropelo, na falta de
amor próprio. Quando viro o olhar para dentro de mim mesma, vejo apenas uma
desordem, uma bagunça de sentimentos, lembranças, sonhos, pessoas, empilhados
numa penumbra que torna ainda mais difícil a possibilidade de se entender
qualquer coisa. Mas o que de fato é a vida, ou melhor, o que de fato é viver?
Sem manual, sem receitas, com medos dançando feito mariposas num dia de chuva
não é compreensível a vida quando se pára com o fim de conhecer nosso próprio
interior. Por que deixamos a condução levar o condutor? Como pode ser assim tão
volátil, tão estranho? Dias passam, um após o outro. O medo perturba dia e
noite, dia após dia. A sensação de estarmos numa contagem regressiva: cada
minuto a mais, um minuto a menos. E assim vamos vivendo, acreditando termos
alguma noção, algum controle, alguma vontade própria, algum livre arbítrio que
seja. Mas a teia somente cresce, toma formas, emaranhados e presos estamos na
verdade de nossa existência: presos na verdade de nossa época, nas aspirações
que não são nossas, no tempo que se conta assim e não assado, nos conceitos que
já estavam formados e nos quais, geralmente não nos encaixamos. E assim se
amontoam todos os amontoados desornados no interior cada vez mais sombrio de
nós mesmos, que aprendemos a ver um mundo quando crianças e depois descobrimos
toda a mentira que existia por trás de nossa própria existência. Difícil de
aceitar, mais ainda de se adaptar, motivo pelo que criamos nossa redoma e
tentamos fazer nossa verdade existir ao menos dentro do espaço delimitado de
nossas almas. Mas a impiedade é fatal e nos atinge. Não há para onde irmos,
quando um Mundo está doente. Célula sufocada, se não muda, deixa de existir.
Perde as características de célula, adota outras, para sobreviver. Mas será que
é a isto que realmente estamos sujeitos: viver, para sobreviver? Talvez sim,
talvez não, a desordem não permite respostas fáceis, e às vezes nem respostas
dá. Se somos parte de um todo e temos nossa existência ligada a eras,
conceitos, razões, anos, que assim seja feito a tua vontade de sufocar o melhor
daquilo que há em nós: a vontade de sonhar. E uma vida sem sonho é uma vida que
passa no relógio, que nasce, que cresce, que sobrevive e depois desaparece. É
uma vida sem dia e noite, sem nascer ou pôr do sol, sem expectativa de coisas
ruins ou boas, simplesmente no automático, como o Mundo, que não é o meu,
insiste em ser.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
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