quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O MUNDO PELOS OLHOS DE UM COVARDE


Não há como se escrever sem que seja com a alma. Esse cansaço que agora sinto é o resultado de anos de escombros entulhados numa vida que vem sendo vivida no atropelo, na falta de amor próprio. Quando viro o olhar para dentro de mim mesma, vejo apenas uma desordem, uma bagunça de sentimentos, lembranças, sonhos, pessoas, empilhados numa penumbra que torna ainda mais difícil a possibilidade de se entender qualquer coisa. Mas o que de fato é a vida, ou melhor, o que de fato é viver? Sem manual, sem receitas, com medos dançando feito mariposas num dia de chuva não é compreensível a vida quando se pára com o fim de conhecer nosso próprio interior. Por que deixamos a condução levar o condutor? Como pode ser assim tão volátil, tão estranho? Dias passam, um após o outro. O medo perturba dia e noite, dia após dia. A sensação de estarmos numa contagem regressiva: cada minuto a mais, um minuto a menos. E assim vamos vivendo, acreditando termos alguma noção, algum controle, alguma vontade própria, algum livre arbítrio que seja. Mas a teia somente cresce, toma formas, emaranhados e presos estamos na verdade de nossa existência: presos na verdade de nossa época, nas aspirações que não são nossas, no tempo que se conta assim e não assado, nos conceitos que já estavam formados e nos quais, geralmente não nos encaixamos. E assim se amontoam todos os amontoados desornados no interior cada vez mais sombrio de nós mesmos, que aprendemos a ver um mundo quando crianças e depois descobrimos toda a mentira que existia por trás de nossa própria existência. Difícil de aceitar, mais ainda de se adaptar, motivo pelo que criamos nossa redoma e tentamos fazer nossa verdade existir ao menos dentro do espaço delimitado de nossas almas. Mas a impiedade é fatal e nos atinge. Não há para onde irmos, quando um Mundo está doente. Célula sufocada, se não muda, deixa de existir. Perde as características de célula, adota outras, para sobreviver. Mas será que é a isto que realmente estamos sujeitos: viver, para sobreviver? Talvez sim, talvez não, a desordem não permite respostas fáceis, e às vezes nem respostas dá. Se somos parte de um todo e temos nossa existência ligada a eras, conceitos, razões, anos, que assim seja feito a tua vontade de sufocar o melhor daquilo que há em nós: a vontade de sonhar. E uma vida sem sonho é uma vida que passa no relógio, que nasce, que cresce, que sobrevive e depois desaparece. É uma vida sem dia e noite, sem nascer ou pôr do sol, sem expectativa de coisas ruins ou boas, simplesmente no automático, como o Mundo, que não é o meu, insiste em ser.

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