sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A luz por entre as folhas


Deitada e olhando pro céu. Com a vista turva, pela luz que ofusca. Ela não queria parar de olhar. Olhando diretamente para o sol, até poder ver a enorme bola alaranjada que se forma e que, depois dela, nada mais se pode ver. Já tinha feito isso antes. Mas jamais havia sentido algo igual. Por entre as folhas da enorme mangubeira. Folhas que iam e vinham, levadas pela suave brisa daquela manhã. Manhã como tantas outras que viveu, como tantas outras que viveria, mas diferente porque nunca foi esquecida. Dentro da enorme bola de sol uma esperança, uma sensação de paz presente e futura, de perspectiva do que viria, com a certeza de que viriam coisas boas enviadas pelos anjos de Deus.

Naquela manhã de conhecimento, de estudo, de solidão, de certa forma não se tinha nenhuma perspectiva, nem haviam sido criadas quaisquer expectativas. Era apenas mais um dia, comum, mas daqueles que marcam. Ali deitada embaixo da árvore, sem falar, sem pensar, sem se importar somente tentado ser tão leve e livre quanto o vento que mexia as folhas, a única pretensão era a entrega total da alma e do coração a Deus. Ali, naquele momento, mais que orações, pedidos, agradecimentos, o que de fato se deu foi a simples e verdadeira entrega. Entrega de um coração que batia nos seus quinze anos de vida. Cheio de verdades, de incertezas, de inseguranças, mas também carregado de esperança, de fé na vida, nas pessoas, na verdade.

Ela não sabia ali o que estava por vir. Aos quinze anos, ninguém sabe. Mas o sonho e a vontade que existiam ali, também existem aos trinta. A acompanharam, os sentimentos nela colocados pela conversa que, naquele dia, ela teve com o sol. Talvez seja injusto tentar explicar em palavras, porque elas não são capazes de traduzir emoções. Mas não custa tentar, até porque neste caso a busca não afeta o que já se tem. E o que se conseguiu sem qualquer pretensão foi acreditar que estamos neste mundo apenas para um único fim: não desistir jamais de amar.

Muitas foram as tormentas que vieram antes e vieram depois. Ela não tinha idéia, naquela dia, que enfrentaria nos anos que viriam seus maiores desafios: a luta contra sua própria descrença. Foram dias de luta, de erros, de acertos. Ela se distanciou de Deus, se distanciou do sol. Se voltou para dentro. Achou saber como deveria agir para sair ilesa de um mundo terreno de injustiças e tristezas. Pensou no escuro, viveu nele. Se aborreceu, deixou de ter esperança. Deixou de ter fé. Mas em nenhum momento esqueceu do dia em que sentiu sua alma lhe dizer: voa, voa menina, ame a natureza porque ela ama você.

Não importa o quanto ela tenha se perdido nesse labirinto que é viver. Não importa o quanto ela errou, se arrependeu, erraram com ela. Não importa se ela vacilou em se autoconhecer, se deixou de lado o sentimento e deu azas apenas a razão. Não importa, pois não importa o quanto ela se afaste de sua essência, pois a essência dela jamais a deixará seguir sem se mostrar, sem se reconhecer.

Nesses dias nublados, em que qualquer prazer serve, pois alivia e traz consolo, ela novamente olhou para o sol. Descobriu que de uma enorme bola alaranjada, foram feitas duas esverdeadas. Percebeu que o tom dourado que emociona, se materializou em pelos que cobrem o corpo mais lindo já visto por ela. Foi amor, é amor e onde há amor sempre irá também se superar.

Ainda está ela, lá, as vezes se sentindo sozinha. Ainda está ela, lá, as vezes sem fé. Mas não existe mais ela sem sentir amor. Não existe mais ela sem sentir o calor. Nesses dias em que tentamos em vão explicar porque tudo está tão diferente, estranho, apocalíptico, nada mais importa à sua razão, pois algo de tão imenso tomou conta de seu coração. O amor. Retomando ao início do que aprendeu no dia embaixo da árvore: único fim para o qual estamos vivos. E Ela está, e assim permanecerá e assim dará frutos, graças a inexplicável aparição do amor, materializado naquela que ama e que não se explica, apenas a enche de fé e a faz querer continuar!

Faltam nove dias para um dia muito especial...um dia em que as cerejeiras irão florescer...um dia em que comemorarei o seu nascer.

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